A ilha pelas palavras de Nemésio

Por: Francisco Maduro-Dias, Museólogo e gestor de Património Cultural

É simples de explicar o porquê de visitar a ilha Terceira seguindo Nemésio, a partir de um roteiro elaborado por Luiz Fagundes Duarte.

Se o que se pretende é conhecer um pouco mais desta ilha, entender melhor o que é isso de ser açoriano, admirar, sabendo o que se está ver, as paisagens e lugares da Terceira, ninguém melhor do que este escritor português, nascido aqui mesmo, em 1901, e que viveu até 1978.

Ao logo de uma vida de mais de 70 anos, atravessando todos os momentos mais relevantes da vida portuguesa e açoriana e começando a escrever cedo, Vitorino Nemésio foi autor de alguns dos livros mais marcantes da literatura portuguesa do século XX.

Não é, porém, por ser um escritor relevante e personalidade de prestígio que visitar a ilha tendo-o por companhia é uma excelente opção. É porque, desde o “Mau tempo no canal” à “Festa Redonda”, ao “Corsário das Ilhas”, ao “Paço do Milhafre”, à “Sapateia Açoriana”, passando por muitos outros, de poesia, prosa, ensaio ou colaboração jornalística, Nemésio raramente deixou de se inspirar nas ilhas dos Açores e nesta sua ilha Terceira universalizando o seu sentir, mas não recusando as raízes, de um modo soberbo.

Para perceber melhor esta experiência talvez nada seja mais apropriado do que alguns pedaços do seu texto de 1932, quando usou pela primeira vez o termo Açorianidade, querendo explicar o que sentia lá dentro de si e era tão difícil explicar:

“Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, por baixo de nuvens que são asas e de bicharocos que são nuvens…”

“Como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra.”

“A geografia, para nós, vale outro tanto como a história, e não é debalde que as nossas recordações escritas inserem uns cinquenta por cento de relatos de sismos e enchentes.”

“Como as sereias temos uma dupla natureza: somos de carne e pedra. Os nossos ossos mergulham no mar.”

Ou, então, estas linhas, retiradas do “Corsário das Ilhas”:

“Sou ilhéu; e, tanto ou mais do que a ilha, o ilhéu define-se por um rodeio de mar por todos os lados. Vivemos de peixe, da hora da maré e a ver navios…”

Como visitante deixo-o aqui, à porta da ilha e das palavras do Escritor e Poeta. A visita é sua, agora.

Informações úteis

Duração recomendada: 1 a 2 dias

Nível de dificuldade: Fácil

Vestuário: A maior parte do trajeto é pelas ruas da ilha e todas estão em boas condições, contudo é sempre aconselhável o uso de calçado confortável.

Horários: O roteiro poderá ser realizado em qualquer altura do ano, é contudo importante ter atenção às mudanças de horário que podem surgir e muitos dos monumentos encontram-se fechados aos fins de semana e feriados.

Reservas: Se fizer um planeamento com alguma antecedência, através de uma agência de viagens ou marcando directamente com um guia, é possível criar no percurso algumas atividades de animação complementares como passeios de barco que recriam a chegada das naus à cidade de Angra do Heroísmo ou até mesmo um mergulho nas praias de areias cinzentas da Praia da Vitória.

Downloads: Brochura “Um Corsário na Ilha Terceira”